Os empreendimentos imobiliários têm sito importantes vetores para a preservação do patrimônio histórico de Porto Alegre. A revitalização da fachada do prédio do antigo Cine Astor está finalizada para abrigar agora o novo Hotel MOOV, empreendimento de bandeira internacional, no Quarto Distrito, região mais efervescente da cidade.
Confira entrevista com o arquiteto responsável e roteiro pela história e Patrimônio Cultural de Porto Alegre.
Fachada do novo Hotel Moov em fase de restauro. Foto por Clara Mendes – Divulgação/Jornal do Comércio
REVITALIZAÇÃO DA FACHADA DO CINE ASTOR
Tendência internacional, e já há muito praticada no Brasil, e agora, também em Porto Alegre, a união de empreendimentos imobiliários e preservação de Patrimônio Histórico tem sido um importante vetor da economia e resgate da história da cidade.
CINE ASTOR E HOTEL MOOV, UM PRESENTE PARA PORTO ALEGRE
A partir da compra do terreno, que antes abrigava o antigo Cine Astor, por uma rede hoteleira internacional o Studio 1 Arquitetura, do arquiteto Lucas Volpatto, mestre e especialista em restauro, foi contatado para o projeto de revitalização da fachada histórica existente no local.
O cinema Astor, anteriormente, Cine Teatro Orpheu, foi inaugurado em 1923, na Rua Benjamin Constant quase esquina com a Avenida Cristóvão Colombo. Em 1963, foi reformado e passou a se chamar Cine Astor, o qual foi desativado em 1994.
Fachada degradada do antigo Cine Astor – Foto do Arquivo pessoal de Lucas Volpatto.
ESTUDO E PROJETO DE RESTAURO
O projeto de restauro teve início em 2016 e, durante estudo e realização do mesmo, foram identificadas características como cor original da fachada, bandeiras de vidro das antigas portas e demais características. Todo esse material serviu de munição para o trabalho de restauração e resultou na fachada finalizada recentemente, em julho de 2021. Um trabalho que envolveu uma equipe multidisciplinar com mestre de restauro, vitralista e artistas plásticos que reconstituíram, inclusive, ornatos originais que faltavam na fachada.
Foto por Ancelmo Cunha – Agência RBS.
Para celebrar este presente que Porto Alegre ganha com a preservação da história, arquitetura e restauro, convidamos o arquiteto responsável pelo planejamento, projeto e execução Lucas Volpatto para nos falar sobre a relevância de todo este processo para a cidade.
Fachada do novo Hotel Moov. – Foto do Arquivo pessoal de Lucas Volpatto.
A HISTÓRIA DE PORTO ALEGRE PELA ARQUITETURA E RESTAURO
Lucas, há quanto tempo atuas com restauro?
No dia 17 de agosto, dia nacional e estadual do Patrimônio Histórico, que comemora a fundação do IPHAN no Brasil – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, coincidentemente me graduei em arquitetura. Isso já faz 13 anos. Sempre fui um aluno interessado e me envolvi em iniciação científica e com acervos de arquitetura. Não imaginava que trabalharia com esta área, mas sempre gostei e tive interesse, assim como em outras áreas. O escritório que fundei junto com uma colega já tem 11 anos. Trabalhamos com outras áreas da arquitetura, mas o patrimônio cultural se destaca. Desde que começamos o Studio1 trabalhamos com patrimônio cultural em diversas escalas.
Para você, qual o efeito da revitalização da fachada na vida do bairro e da cidade?
Acho que Porto Alegre gosta muito de patrimônio, mesmo que a vezes pareça que não, gosta muito de ver os edifícios sendo restaurados. Falo para meus alunos que trabalhar com arquitetura é trabalhar com a vida das pessoas.
Quando trabalhamos com patrimônio cultural, vamos além, pois lidamos com emoção, com paixões, lembranças e isso é muito profundo, é a essência da vida das pessoas.
Enquanto executávamos a obra do Cine Orpheu/Astor, as pessoas na rua nos paravam e contavam suas histórias com o cinema, com o bairro, suas lembranças de vida. Se a arquitetura é o reflexo da autoestima da cidade, quando se restaura um edifício é como se estivéssemos resgatando a autoestima que em muitas vezes anda baixa.
Patrimônio Cultural é um legado que herdamos e que devemos conservar e restaurar para que siga sendo um legado.
Qual o papel do Patrimônio Cultural na cidade?
As cidades são feitas de camadas, Porto Alegre, mesmo uma cidade tão jovem em relação ao nosso continente, é composta de diversas camadas. Essas camadas podem ser identificadas pelo traçado das ruas, mas principalmente, pelos seus edifícios e monumentos. A arquitetura é um reflexo da sociedade e nos diz muito sobre as épocas passadas.
Preservar a arquitetura do passado é salvaguardar a história para as próximas gerações.
Qual a importância do restauro para preservação da história da cidade?
O restauro ou restauração, mesmo que pareça estranho, deve ser evitado. Devemos sim, promover, incentivar e preferir sempre a conservação e manutenção. Restaurar é necessário, mas é algo extremo, deixamos as edificações antigas degradarem e assim, necessitando atividades de restauração, que buscam em um resgate científico, a imagem dos edifícios de uma determinada época ou de diversas épocas. É uma disciplina e toda restauração deve ser muito estudada antes de ser executada.
Para as cidades, a restauração é fundamental na preservação da imagem e identidade; e não somente se restaura edifícios, mas ruas, parques, jardins entre tantas possibilidades.
Como tem sido o restauro de Patrimônio Cultural no Brasil e no Rio Grande do Sul?
Restauração como atividade existe desde o século XIX, é uma atividade muito debatida e necessária. Tantas guerras e destruições trouxeram essa pauta e, atualmente, ampliamos cada vez mais o conceito de patrimônio cultural em que entendemos que as coisas que não são monumentais, também são patrimônio.
Patrimônio é a vida das pessoas, do presente, do passado e é o futuro. No Brasil e no RS já acontecem restaurações em muitas cidades e tantas outras necessitam.
O importante é conservar antes de restaurar, mas muita coisa precisa ser restaurada, preservada.
Quais cidades do RS já receberam trabalho de restauro pela Studio1?
No patrimônio Cultural, especificamente em Porto Alegre, Pelotas, Garibaldi, Butiá, Camaquã, Arambaré, Bagé, Viamão. Nova Hartz, São Sebastião do Caí e, agora Caxias do Sul, com a MAESA – Metalúrgica Abramo Eberle S.A.
Fachada do Prédio da MAESA em Caxias do Sul. Foto por Andréia Copini.
UM ROTEIRO PELA HISTÓRIA E PATRIMÔNIO CULTURAL DE PORTO ALEGRE POR LUCAS VOLPATTO
Praça da Matriz em Porto Alegre – Foto por Alex Rocha/PMPA
Porto Alegre deve ser apreciada por suas camadas.
Sugiro sempre começar pelas praças tombadas como sítio urbano pelo IPHAN: Praça da Alfândega e Praça da Matriz. Nestes locais, estão edifícios muito importantes e restaurados através de projetos como o Monumenta.
No entorno da Praça da Matriz por exemplo, estão as edificações mais antigas da cidade como o Solar dos Câmara e a antiga Casa da Junta, ainda do século XVIII.
Também, os mais monumentais como a Catedral e o Palácio Piratini e, já extrapolando uma camada mais historicista, temos o modernista Palácio da Justiça. Na Praça da Alfandega, o Conjunto da Avenida Sepúlveda com os edifícios Irmãos do MARGS e do Memorial do Rio Grande do Sul, o Pórtico do Cais e os edifícios do entorno, como a Antiga Alfândega, Secretaria da Fazenda e Farol Santander.
Claro que, a Rua dos Andradas deve entrar no circuito destacando, a Igreja das Dores, Casa de Cultura Mário Quintana e no final a Usina do Gasômetro. Como não pode faltar a Avenida Borges de Medeiros, com o monumental Viaduto Otávio Rocha (esse urgindo pelo restauro novamente), o belíssimo Edifício do Paço dos Açorianos e é claro, o Mercado Público e o Chalé da praça XV, pois a essência da nossa cidade está lá.
Saindo do Centro Histórico, sempre sugiro uma volta no Bairro Moinhos de Vento, entre Félix da Cunha, Praça Maurício Cardoso e Rua Barão de Santo Ângelo, com casas muito conservadas. Cidade Baixa com a Travessa dos Venezianos e o Museu de Porto Alegre (uma das primeiras restaurações de Porto Alegre com esse entendimento) também deve entrar na lista.
Mais ao norte, temos o IAPI, que embora não tenha havido restauros para entrar no roteiro dos “restaurados”. É um lugar incrível na cidade, pelo urbanismo, arquitetura e pela essência, pois as pessoas vivem aquele bairro como ele sempre foi. É patrimônio vivo!
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