O arquiteto Alcimir Richter escreveu para o nosso blog sobre o novo olhar, nossa nova forma de ver e viver a vida pós-pandemia. Confira!
“A criatividade nasce da angustia, assim como o dia nasce da noite escura. É na crise que nasce os inventos, os descobrimentos e as grandes estratégias. Quem supera a crise, super a si mesmo sem ter sido superado.” Albert Einstein.
Quando poderíamos pensar que o mundo pararia.
Imaginar que mudaríamos nosso pensamento em relação a todas as nossas atividades. Os acontecimentos que nos levaram a repensar todo o nosso relacionamento social, como em um filme de ficção, cria uma nova perspectiva no habitar os espaços.
Independente das restrições necessárias impostas de combate à proliferação da Covid-19, individualmente criamos uma série de protocolos para nos adaptarmos a esta nova realidade. Não acredito em uma longa permanência de distanciamento social, mas as marcas psicológicas desta experiência são irreversíveis.
O ser humano, sem dúvida, deverá extrair uma nova maneira de viver tendo novos valores no aprendizado do lockdown. Nunca estivemos tão afastados fisicamente de outros seres humanos e tão próximos através da solidariedade. Eu me cuido para cuidar de ti.
As redes sociais tornaram-se a grande ferramenta de aproximação, como se o mundo esperasse esta evolução para colocar à prova, através de uma situação, de exceção este novo tipo de relacionamento. Uma revolução nas relações. Todos comunicados com acesso sem preconceito de status social.
A utopia de uma parada global se torna realidade. Deixou de ser uma utopia.
Uma revisão do saber viver baseadas em formas para o futuro. Vivemos este presente olhando também fórmulas do passado. Em nossa modernidade não aceitamos nos sentirmos fragilizados. Evoluímos muito em tecnologia, mas temos muito a aprender. Temos que admitir o “não sei” e procurar saber mais.
Devemos então extrair aprendizado desta experiência em todas as áreas. Na minha visão como arquiteto e urbanista acredito que novos conceitos no design já estão sendo revisados. Os espaços arquitetônicos apresentam novos condicionantes.
Projeto austríaco de um parque urbano do Studio Precht, propõe áreas de contemplação de caminhos com possibilidade de distanciamento. Chamado de “Parc de la Distance” tem esboço projetado para Viena. Uma ideia que se aplica para qualquer espaço urbano, inspirado nos jardins barrocos franceses e os zen japoneses.
A residência torna-se o melhor refúgio e as condições de habitabilidade são revistas para o melhor conforto e qualidade de vida. A funcionalidade e salubridade acabam por ser itens importantes para os novos projetos. O lockdown nos ensina a lidar com a nova comunicação social, voltando-nos para as coisas simples do bem viver. A mensagem “fique em casa” nos faz repensar. A casa volta a ter uma grande importância.
Os valores então investidos em consumo serão usados para aparelhar melhor os espaços domésticos de convivência. Organizar nossos lares descobrindo suas novas/velhas funções. Os ambientes multiplicam suas funções. O living como espaço familiar torna-se múltiplo. Os dormitórios diminuem. Ninguém quer se isolar.
Os armários são reduzidos na necessidade de menos roupas. A cozinha torna-se o ambiente de descobertas gastronômicas de experientes. Inexperientes se descobrem chefs potenciais. O Home Office ganha importância quando aprendemos que muitos dos trabalhos que exigiam nosso deslocamento podem ser feitos em casa. Esta nova maneira de agir impactará o sistema de transito das cidades.
Um novo layout para lojas, restaurantes e áreas externas exercitam novos experimentos adaptando-se às exigências de distancia. Outra maneira de olhar os espaços. O design apresenta novas formas ergonômicas e soluções criativas de proteção e higienização.
Aprendemos que podemos facilitar nossas vidas e usufruir melhor nosso tempo. A descoberta de um mundo interior na fuga da vertiginosa vida que levávamos. Aprendemos que é possível. É saudável. No meu ponto de vista, extrair do ‘caos’ deste momento uma experiência inusitada é usarmos a inteligência para nos adaptarmos a nova realidade de espaços arquitetônicos.
Fazermos o melhor em nossos cuidados, cuidando de nossos semelhantes.